sexta-feira, 18 de junho de 2010

Zona Sul x o resto

Cada lugar do Rio de Janeiro tem seu próprio encanto e desencanto, assim como tudo na vida tem seus prós e contras.
Acontece que a Zona Sul, onde estão as praias e pontos turísticos, parece sempre ter mais prós do que contras.
Em uma cidade tão grande como esta, é comum que existam muitas disparidades, inclusive geográficas.
Se você não mora no Rio de Janeiro, é bom saber que:
- Nem todos os bairros são banhados pela praia. Aliás, se 25% da cidade é banhada pela Baía de Guanabara, é muito;
- Nem todos os bairros tem morros;
- Nem todos os morros tem favelas;
- Nem toda favela tem boca de fumo, mas se não tem, provavelmente em breve terá;
- Nem todo mundo que mora na favela é bandido;
- Nem todo bandido mora na favela. Alguns moram em Brasília e esses são bem piores.
- Não dá pra ver o Cristo Redentor da janela de todo morador da Cidade. Se em Botafogo as pessoas já lutam por uma visãozinha do Cristo da janelinha do banheiro, quem dirá a galera em Campo Grande!

- Copacabana não tem mais aquele glamour;
- Na Urca, bairro do Pão-de-Açúcar, os moradores, através de medidas elitizadas e discriminatórias, tentam a todo custo manter seu glamour;
- Carioca é simpático(a), hospitaleiro(a), alto-astral e despreocupado(a), mas é péssimo(a) motorista, mal-educado(a) e às vezes até ignorante. Embora more no maior ponto turístico do país, joga papel no chão, escarra na rua, tira a calcinha da bunda na frente de todo mundo, isso quando sai de calcinha!
- A cidade e seus moradores (especialmente os da zona sul) discriminam o pobre, o preto, o favelado, o mal-vestido, o flamenguista, enfim, todas as maiorias marginalizadas.
- Na Zona Sul, onde está a maior parte dos bairros turísticos, tem morro e favela, mas também tem iluminação pública, policiamento ostensivo, transporte público integrado e opções de lazer e cultura à rodo. Nas outras partes da cidade, quase não.
- Na Zona Sul existem inúmeras linhas de ônibus pra se fazer o mesmo trajeto ou trajetos idênticos. Quem mora na Zona Oeste e até mesmo na Norte pena horas e horas em pontos de ônibus esperando por conduções lotadas e é muitas vezes obrigado a utilizar transporte ilegal;
- Na Zona Sul, se as pessoas gritam, geralmente são ouvidas. Nas Zonas Oeste e Norte é uma luta manter um lugar que provê cultura à população e um pedido às empresas de fornecimento de água, luz e até à Secretaria de Parques e Jardins da Prefeitura demora milênios pra ser atendido;
- Quem mora na Zona Sul adora o horário de verão! Coisa boa chegar em casa e ainda ter sol pra correr na orla, dar um mergulho antes de voltar pra casa...
-Quem mora na Zona Norte e Oeste odeia horário de verão. Tem que acordar mais cedo que de costume pra ir trabalhar e quando volta, passa horas no busão tomando sol na moleira.
- A Zona Norte é composta por bairros que na época de Machado de Assis eram aristocráticos e hoje estão ou beiram a decadência. Pelo menos tem o trem, que passa lotadão, mas perto de casa.
- A Zona Oeste é composta por bairros que há 30 anos atrás mal tinham população. Hoje alguns bairros são alvos de especulação imobiliária e outros tentam se livrar do estigma de área rural. O sistema de transporte é precário e até quem mora na Barra da Tijuca, menina dos olhos da Prefeitura e de empresas que adoram colocar ali as sedes de seus escritórios, sofre com o trânsito impraticável todo dia.
Uma pessoa na minha posição atual, recém-saída do subúrbio pra morar na Zona Sul, se já não sofreu, acaba sofrendo um puta choque de realidade.
Além de todos os fatos que comprovam este sentimento de inclusão que venho sentindo, a própria mídia cansa de passar a idéia de que a Zona Sul é que é a imagem da Cidade Maravilhosa.
Afinal, não é em Jardim América que se fazem aquelas propagandas de carro caríssimas, nem as novelas do Maneco se passam em Oswaldo Cruz.
Porém, mesmo quando o subúrbio passa a ser a sua "casa de campo" é impossível não pensar incessantemente no termo "desigualdade social". Fica mais escandalosa e estridente a diferença e ainda mais a indignação.
Porém, as pessoas que ainda moram na zona rural da cidade parecem estar em um estado letárgico, esperando que D. Pedro II passe em seu cavalo branco pelo Caminho Imperial, enquanto eu me sinto como um cara que acabou de sair da caverna da qual falava um dia Platão, e deixei de ver sombras pra ver o que é a luz.

terça-feira, 8 de junho de 2010

#Peoplewatch

O sol batalha para se entremear nas nuvens. Os dias tem sido incertos no Rio de Janeiro.

 

Meus dias, no entanto, tem sido de uma certeza inegável. Estou muito perto do trabalho e muito longe da casa da minha mãe. A saudade se inverteu. Se antes eu morria de vontade de ver meu namorado, hoje qualquer tempo que eu possa ver minha família é precioso.

 

Ainda assim, eu tenho muita coisa pra ver.

 

Sempre fui acostumada a morar em casa em vez de apartamento. Conviver com inúmeras janelinhas nunca foi minha realidade e isso tem sido muito divertido pra mim.

 

#Peoplewatch: É a arte de observar pessoas e colocar a imaginação pra trabalhar.

 

Quem gosta de peoplewatch, acaba imaginando a história daquelas pessoas com base no que ela está carregando, no seu semblante, se ouve música, se fala sozinha, se vem com alguém, pra onde vai e de onde vem.

 

Janelas não dão muito material, mas tudo o que vejo me intriga.

 

Meu namorado fica me imitando enquanto olho pelas janelas. Ele finge uma conversa entre nós e de repente para, perplexo com alguma coisa.

 

Eu morro de rir, porque eu nem percebo o quanto essas janelas chamam a minha atenção.

 

Devo parecer uma velha fofoqueira, mas me debruço na minha janela e observo tudo.

 

Vejo onde moram pessoas jovens e velhas, as empregadas limpando, as cores das paredes.

 

Em um apartamento azul mora um casal recém-chegado que deve ter uma história muito parecida com a nossa.

 

No apartamento com móveis antigos, mora uma senhorinha que parece fumar na janela com a mesma culpa que eu faço a mesma coisa. Com ela, mora uma moça bonita que gosta de falar ao telefone na janela.

 

Na janela em frente, tem uma estante de livros que é nosso xodó. Ficamos imaginando o dia em que teremos tantos livros em nossa parede. O senhor que mora ali vem e vai, sempre portando livros nas mãos. Deve ler o dia todo, pesquisar e quem sabe, trabalhe em casa. Ou quem sabe seja um senhorzinho aposentado que já sem esposa ou solteirão, decidiu passar os dias curtindo o prazer de uma boa leitura. E aí eu não consigo escapar de um sentimento de inveja....droga.

 

Cortinas que esvoaçam, brancas e voláteis, flores nos parapeitos, trabalhadores nos telhados, decorações iluminadas, os bem-te-vis que se aninham de manhã nas palmeiras e trinam no chegar da meia-noite.

 

Eu não tenho TV nem internet. Mas eu tenho uma janela, olhos, ouvidos e uma pele que se arrepia com a chegada do vento de chuva quase toda noite.

 

E por enquanto, isso me basta.

 

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pequenas vitórias

31/05/10

 

Quando você vai morar sozinha, nem imagina que cada pequena coisinha que você fizer vai ser uma vitória.

Na nossa primeira noite sozinhos no apartamento tomamos um sacode do escorredor de louças. Pra montá-lo, foi preciso o esforço físico e a inteligência de ambos e mesmo assim demoramos um tempão! Quando conseguimos, nos abraçamos em comemoração, afinal, foi um 10 a zero bonito! Hahaha!

Hoje foi a primeira vez que lavamos roupa. Já tinha uma bacia enorme esperando pra ser lavada e aquilo já tava dando cheiro. =P

Infelizmente, a coisa não vai melhorar tão cedo, porque nem varal nós temos direito, ele é muito pequeno. Até colocamos um varal de chão na nossa lista de chá de panela, porque vai ser super necessário! Quem quiser se voluntarizar aí, to aceitando! [mendiga /mode on]

Primeiro que a máquina de lavar ainda está sendo adaptada pra ser usada no apartamentículo, então, a gente ainda está enchendo ela com uma mangueira, sem ser pela traseira da bichinha. E pra saber qual o nível certo de água? Enchemos até a boca e nada dela funcionar!

Acordamos às 7 da manhã pra fazer tudo cedinho e nos liberarmos pra ir trabalhar, mas só depois de uma hora e meia é que lembrei que precisava apertar um botão lá pra máquina começar a bater a roupa! Sim, dã!!! Aí, sim, nos abraçamos tão efusivamente que até deu pena de ser segunda e termos que sair pra trabalhar em vez de ficarmos namorando em casa. #fuéiiiin

Quando Nouveau saiu pra trabalhar é que terminei de estender a primeira leva de roupas.

Ainda ficaram umas meias pra ele esfregar quando chegar do trabalho e uma camisa que acabou mofando de tanto esperar na bacia de roupa suja. #FAIL

Ainda deixei uma panela de arroz juntosvenceremos pro Xuxu comer. Sim, eu faço um macarrão ao molho funghi maravilhoso, mas eu não sei fazer arroz soltinho.

Como eu cozinho na maior parte do tempo de olho, coloco a quantidade de arroz que meu estômago manda e dois dedinhos de água pra cobrir. =P

Mas eu ainda descubro como fazer meu arroz soltar da panela, é que ele é muito apegado ao inox, tadinho! rsrsrs

Parece até uma vida de Amélia sem fim, mas eu me divirto bastante também.

Fomos no jogo do Grêmio sábado passado e quase me esgoelei de tanto gritar pelo meu time! Pena que empatamos, mas ainda podemos nos recuperar, ainda é o início do Brasileirão! Vamos lá, Grêmio!!! \o/\o/\o/

E Nouveau foi comigo pra dar apoio moral pro meu time! Hehehe!

Quarta é minha vez de dar apoio moral e me esgoelar mais um pouquinho, porque aí joga o Flu contra o Vitória e nós estaremos lá! o/

Depois começa a Copa, e o povo todo se esgoela mais um pouco! As empresas fazem esquemas especiais de atendimento aos clientes, a gente volta pra casa mais cedo. Nouveau nem vai trabalhar. Só no Brasil mesmo, né?

Só não podemos é esquecer do resto da vida, que segue, apesar dos campeonatos de futebol e das roupas manchadas.

 

07/06/2010

 

Como estou postando isso só hoje, vou atualizar as informações:

- O Grêmio empatou com o Flamengo;

- O Fluminense ganhou do Vitória;

- Eu ainda faço arroz muito mal;

- A pilha de roupas é infindável. Droga.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um furo aqui, outro acolá

Na quarta-feira seguinte ao nosso fim-de-semana em que dormimos aqui no colchonete, fizemos a nossa mudança.

O pai e o tio do Igor nos deram uma ajuda sensacional. Vieram até aqui, ajudaram a carregar a mudança, e enquanto o pai dele nos ajudava trocando o chuveiro e coisas afins, o tio dele me ajudava com a arrumação, com a cortina do banheiro etc.

O pai do Igor é famoso na família pela tensão acumulada, o apego ao material e as neuroses de limpeza.

Nós dois somos dois poços de calma, não nos importamos tanto assim com dinheiro e somos dois desastrados preguiçosos. Imagina essa cena!

Dois dias com ele foi o suficiente pra me deixar emocionalmente exaurida e como o Igor mesmo disse, fiz um esforço hercúleo pra manter o bom humor.

O pai dele é ótimo instalando coisas, furando paredes e todas essas coisas que nós não entendemos nada, e a maneira dele de expressar seus sintomas de Síndrome do Ninho Vazio é se fazer presente e consertar tudo, fazer tudo, pagar tudo, mesmo com o filho insistindo que é importante pra ele aprender, pagar etc pra enfim ter noção das coisas e estabelecer a sua independência.

A presença excessiva dele demonstra o quanto é difícil pra esse pai fazer a ruptura, deixar o filhote alçar voo e coisas do gênero.

E embora nós sejamos eternamente gratos pela sua ajuda, no fim da semana, tudo o que gente queria era ter um tempinho pra curtir uma lua-de-mel, o que foi possível depois da cortina instalada! =)

Obrigada, seu Adélcio! ;)

 

                                                        ***

 

Agora a gente ingressa de vez na vida de gente grande.

Assim que transferirmos a conta de gás pro nosso nome, poderemos instalar o fogão e parar de comer comida congelada (ufa!) e eu poderei voltar a postar as receitinhas que eu postava aqui antigamente e não só as receitas de como enlouquecer tentando ingressar nesse mundinho ingrato e complicado dos adultos.

Estamos saindo da Terra do Nunca e mesmo assim estamos muito felizes!

Agradeço do fundo do coração a quem nos apoiou desde quando eu ainda tinha dúvidas se devia me jogar de cabeça ou não nesse relacionamento que só tem me trazido benesses.

Até a próxima receita, xuxus! ;)

 

P.S.: Nouveau, te amo!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Não basta só a chave do seu coração agora, xuxu.

Chegamos ao apartamento!

Era um sábado e meu xuxu-mór trabalharia muito cedo no domingo.

Minha mãe e minha tia viajaram 30 km da Zona Oeste até a Zona Sul da cidade pra nos ajudar a levar o microondas, o ventilador, o colchonete e muitas outras coisas que tornariam nosso apartamentículo habitável.

Saímos pra dar uma volta depois de acomodarmos as coisas. Passeamos o suficiente pras meninas ficarem com vontade de fazer xixi. Quando voltamos pra casa, a chave emperrou!

Tudo lá dentro, carteira, telefone, identidade! Se não fosse a neura do Igor de SEMPRE sair com a carteira, não teríamos nem dinheiro pra pagar o chaveiro!

Eu só pensava em como tinha sido difícil conseguir alugar aquele apartamento e agora eu não conseguia nem entrar nele! Deus, que mais poderia dar errado!? Mais uma vez, o otimismo fraquejava.

De fato, não tínhamos dinheiro pra pagar. Tivemos que sacar no 24h e sair à caça de um chaveiro que atendesse depois das 18h de sábado.

Por sorte, achamos um, que não nos cobrou caro.

Porém, entre aceitarmos que precisávamos de um chaveiro pra abrir a porta e enfim deitarmos na cama pra dormir, já era muuuuuito tarde!

 

                                                        ***

 

No dia seguinte, decidimos sair pra dar uma volta e comprar algumas coisas pra casa.

Uma colega do trabalho, a Rita, pessoa agitada, espevitada e sabida, disse que casa é como um filho, sempre precisa de alguma coisa e sempre gera gastos.

Cara, como ela tinha razão! Quanto mais você compra, mais coisa aparece pra comprar! E não é consumismo, é que quando você monta uma casa, você vai percebendo no cotidiano que as coisas te faltam e como elas faltam! Então, todo dia você acha alguma coisa que deveria estar ali e não está. =P

 

                                                        ***

 

Quando contei no trabalho que estava #finalmente instalada, as meninas logo trataram de compor uma lista de chá de panela.

 

-         Fê, se você for comprar tudo isso, mesmo que cada coisinha custe R$5 ou R$10, vai gastar uma fortuna! Deixa que a gente organiza o evento pra você!

 

De início, fiquei morrendo de vergonha. Eu sempre participei numa boa de chás de panela e bebê, mas não parece que você ta mendigando alguma coisa? E às vezes, mesmo convivendo com as pessoas do trabalho todo dia, você não tem intimidade pra sair pedindo um presentinho.

Contando com o carisma das minhas colegas e com a respectiva cara-de-pau, fiz a tal lista do chá de panela, a interminável lista! Deve ter pra mais de 60 itens e elas ainda acharam pouco!

Vocês não tem ideia de quantas pessoas querem participar e ficaram ansiosas enquanto eu não editei a tal lista! Essas pessoas me surpreenderam com o seu carinho e sua vontade de ajudar. E é muito bom ser supreendido assim, tão positivamente. Eu espero que todo mundo possa experimentar isso pelo menos algumas vezes na vida, porque é muito gostoso!

Porém, nem sempre a vontade de ajudar é sentida assim de forma tão gostosa.

 

[...]

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